POCUS no Derrame Pleural

Criado em: 20 de Fevereiro de 2023 Autor: Luisa Sousa

A ultrassonografia à beira do leito (POCUS) cada vez mais faz parte da avaliação na emergência. Todo dia a técnica é aprimorada e incorporada nos atendimentos. Um artigo do British Medical Journal (BMJ) publicado em janeiro de 2023 trouxe alguns pontos da abordagem do derrame pleural com POCUS [1]. Aproveitamos para revisar esse tópico aqui no Guia.

Princípios do POCUS pulmonar

O POCUS pulmonar permite a identificação imediata das patologias pulmonares e reduz os riscos associados a procedimentos como a toracocentese.

A formação da imagem no ultrassom depende do contato da onda sonora com o meio físico. O ar presente no pulmão impede a propagação da onda, dificultando a formação de imagem. Assim, o POCUS pulmonar depende da identificação da pleura e dos artefatos gerados pela sua imagem.

Figura 1
Linha A no ultrassom pulmonar à beira-leito
Linha A no ultrassom pulmonar à beira-leito

As linhas A e B são dois artefatos gerados pela pleura e comumente encontrados no POCUS. A linha A é um achado normal caracterizado por linhas horizontais paralelas à pleura e equidistantes entre si (figura 1). A linha B é um achado patológico que indica edema intersticial. A linha B é definida por algumas características (figura 2):

Figura 2
Linha B no ultrassom pulmonar à beira-leito
Linha B no ultrassom pulmonar à beira-leito
  • Verticais
  • Hiperecogênicas
  • Origem a partir da linha pleural
  • Apagam a linha A
  • Não perdem intensidade à medida que se aprofundam na imagem
  • Movem-se com o deslizamento do pulmão
  • Similares a cauda de cometa

Como fazer o POCUS do pulmão?

Figura 3
Tipos de transdutores de ultrassom
Tipos de transdutores de ultrassom

O transdutor (probe) indicado para avaliação pulmonar é o curvilíneo (figura 3), permitindo boa penetração na parede torácica e parênquima pulmonar. O probe linear pode ser usado, mas por ter penetração inferior sua avaliação fica restrita à pleura. O transdutor ecocardiográfico tem uma penetração profunda no pulmão entre os espaços intercostais, porém com espaço de imagem limitado. Todo transdutor possui uma marcação em um dos lados para orientar a lateralidade da imagem (figura 4).

Figura 4
Marcação e posicionamento do transdutor do ultrassom na avaliação pulmonar
Marcação e posicionamento do transdutor do ultrassom na avaliação pulmonar

Alguns protocolos foram elaborados para sistematizar a avaliação pulmonar. Um dos mais conhecidos é o protocolo Bedside lung ultrasound in emergency (BLUE), que tem como objetivo avaliar rapidamente o paciente com insuficiência respiratória na emergência [2].

O artigo do BMJ ressalta o uso do POCUS na identificação de algumas causas de dispneia no pronto socorro, em especial três situações:

  • Pneumotórax
  • Síndromes intersticiais - edema pulmonar e consolidação
  • Derrame pleural

POCUS no derrame pleural

Ao procurar derrame pleural (DP) no POCUS pulmonar, deve-se posicionar o transdutor na linha axilar média com o indicador na direção cefálica (figura 5).

Figura 5
Posicionamento do transdutor para avaliação de derrame pleural no paciente em decúbito dorsal
Posicionamento do transdutor para avaliação de derrame pleural no paciente em decúbito dorsal

Se não existir derrame pleural, a imagem mostra o diafragma como uma linha curva hiperecogênica móvel com a respiração. O pulmão acima do diafragma desloca-se na direção crânio-caudal com a respiração, gerando o sinal da cortina (veja um video sobre o sinal da cortina).

Figura 6
Derrame pleural no ultrassom pulmonar à beira-leito
Derrame pleural no ultrassom pulmonar à beira-leito

O DP é visualizado como uma imagem anecóica (de cor preta) que fica entre a parede torácica e a linha pleural, sendo mais fácil identificá-lo nas posições pendentes do tórax (figura 6). O DP faz o sinal da cortina desaparecer, fazendo surgir o sinal da espinha. O sinal da espinha é a visualização da vértebra torácica acima do diafragma, um sinal sempre patológico (veja o sinal da espinha aqui). Em pacientes sem DP, o ar do pulmão impede a visualização das vértebras, sendo vistas apenas no abdome.

A sensibilidade e especificidade do POCUS na identificação do DP são respectivamente 93% e 96%, valores superiores ao exame físico e à radiografia de tórax.

Algumas manobras ajudam na avaliação do DP:

  1. “Respirar fundo e segurar”
    • As sombras das costelas podem dificultar a visualização do diafragma. Para minimizar, pede-se ao paciente para “respirar fundo e segurar”, deslocando o diafragma caudalmente e melhorando a imagem.
  2. Colocar o probe oblíquo ao espaço intercostal
    • Ao colocar o transdutor na linha axilar média, deve-se posicioná-lo entre as costelas de forma oblíqua, permitindo visualizar o DP sem a interface das costelas.

Estimativa do volume do DP

Figura 7
Método de Balik para estimar volume de líquido pleural
Método de Balik para estimar volume de líquido pleural

Um dos meios utilizados para estimativa da quantidade de líquido pleural é o método de Balik [3]. Nessa técnica, o paciente fica em decúbito dorsal com inclinação de 15° em relação ao plano. Coloca-se o transdutor na linha axilar posterior e mede-se a distância máxima entre o pulmão e o diafragma. A distância máxima é obtida congelando a imagem na expiração. Cada milímetro obtido nessa medição equivale a 20 ml de líquido pleural (figura 7).

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