Vacina para Vírus Sincicial Respiratório
O vírus sincicial respiratório (VSR) é uma causa importante de morte e morbidade entre as infecções respiratórias. Em abril de 2023, foi publicado no New England Journal of Medicine a análise interina de um ensaio clínico de uma nova vacina para VSR em idosos [1]. Aproveitamos para revisar o tema e trazer a nova evidência neste tópico.
O que é o vírus sincicial respiratório?
O VSR é uma das causas mais comuns de infecções respiratórias junto com o SARS-CoV-2 e o vírus da influenza [2]. É uma etiologia importante de mortalidade em crianças, mas pode causar casos graves em adultos imunossuprimidos e idosos.
O vírus pode causar infecção de vias aéreas superiores (IVAS) e não há característica clínica que o diferencie de outros vírus respiratórios. Em quadros mais graves pode acometer as vias aéreas inferiores em adultos, especialmente idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos. Em um estudo de 2013 que analisou 607 pacientes internados por VSR, a média de idade era de 75 anos, 87% dos pacientes tinha alguma comorbidade e 12% tinham coinfecção bacteriana [3].
A importância do VSR
As medidas de restrição da pandemia de COVID-19 causaram redução dos casos de VSR. Com a diminuição das medidas de restrição, houve uma aumento de casos nos Estados Unidos e o vírus circulou com mais intensidade do que em anos anteriores [4].
De janeiro a abril de 2023, houve um aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) causada por VSR no Brasil. Até o início de abril foram reportados 37.057 casos de SRAG segundo o Infogripe - iniciativa para monitorar e apresentar níveis de alerta para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) [5]. Dentre esses casos, 13.666 tiveram resultado positivo para algum vírus respiratório, com a seguinte distribuição:
- Influenza A: 2,7%
- Influenza B: 3,2%
- COVID-19: 49,9%
- VSR: 32,1% (a maior parte em crianças)
O diagnóstico de VSR pode ser feito por antígeno e RT-PCR de secreção nasal. O exame é pouco disponível para adultos e costuma fazer parte de painéis de vírus respiratórios.
Nova corrida vacinal
Atualmente existem cinco vacinas contra VSR com estudos de fase três [6]. Este tópico discute a vacina da Pfizer, uma vacina proteica bivalente ativa contra VSR A e B. Esta vacina teve duas análises interinas publicadas em abril de 2023 no New England Journal of Medicine [1, 7].
O estudo MATISSE avalia se a vacina em gestantes pode diminuir a infecção do VSR em recém-nascidos e crianças. Já o estudo RENOIR avalia se a vacina em idosos pode diminuir a infecção nessa população.
Em fevereiro de 2023 foi publicada na mesma revista a análise interina de outros estudos de fase três das vacinas da GlaxoSmithKline e a da Janssen [8, 9]. Os resultados das vacinas da Moderna e da Bavarian Nordic ainda não foram publicados [10, 11].
O estudo
O estudo RENOIR randomizou 34 mil pacientes maiores de 60 anos para avaliar a eficácia de uma dose da vacina RSVpreF contra infecção por VSR [1].
A idade média foi de 67 anos e o desfecho primário foi prevenção de infecção de trato respiratório inferior pelo VSR . A infecção do trato respiratório inferior foi definida como a presença de pelo menos dois sintomas (tosse, sibilos, escarro produtivo, dispneia ou taquipneia) e confirmação por RT-PCR para VSR.
Nessa análise interina, quando a infecção foi definida por dois sintomas respiratórios, a eficácia foi de 66%. Quando a infecção foi definida por três sintomas, a eficácia foi de 85%. A taxa de efeitos adversos locais foi 12% com a vacina contra 7% com o placebo, mas os efeitos sistêmicos foram semelhantes, 27% e 26% respectivamente.
O estudo ocorreu durante uma temporada de infecções por VSR, ficando em aberto o questionamento sobre a duração da proteção. Pacientes imunossuprimidos são um grupo de interesse e foram excluídos do trabalho. Apesar das dúvidas restantes, a disponibilidade de uma vacina para VSR parece uma questão de tempo.
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