Reposição de Vitamina B12
A American Family Physician fez uma publicação comparando a reposição de vitamina B12 oral e intramuscular [1]. Esse tópico aproveita a publicação e discute a via, indicações, dose e monitorização da reposição.
Princípios do tratamento
A deficiência de vitamina B12 deve ser sempre tratada, apesar da maioria dos pacientes serem assintomáticos ou terem sintomas leves. Algumas condições que aumentam o risco de deficiência de vitamina B12 estão agrupadas na tabela 1.

Existem três situações em que a reposição é mais urgente:
- Anemia sintomática, especialmente Hb < 8 g/dL
- Sintomas neurológicos ou neuropsiquiátricos
- Gestação
A reposição pode ser feita por via oral ou parenteral. A via endovenosa não deve ser usada pelo risco de anafilaxia.
A diretriz de 2014 publicada no British Journal of Haematology indica a reposição parenteral de vitamina B12 para todos os pacientes sintomáticos [2].
Uma revisão de literatura recente da American Family Physician comparou a suplementação oral versus intramuscular [1]. Dentre os trabalhos, destaca-se um estudo publicado no British Medical Journal comparando a reposição oral com a intramuscular por 52 semanas [3]. O desfecho primário foi sucesso no tratamento, definido como concentração de vitamina B12 > 211 pg/mL nas semanas 8, 26 e 52. O estudo encontrou que a via oral foi não inferior à via intramuscular.
As vias intranasal e sublingual já foram testadas. A via intranasal não sofre efeito de passagem pelo trato gastrointestinal, porém não é facilmente disponível e pode causar alergias e rinite. A via sublingual é um opção considerada principalmente em crianças, idosos e pessoas que usam medicações que reduzem a absorção da vitamina, porém ainda são necessários mais estudos para comprovar a eficácia dessa via [4].

A hidroxocobalamina tem administração intramuscular e geralmente é bem tolerada. Os efeitos colaterais incluem prurido, exantema e mais raramente anafilaxia. As apresentações disponíveis no Brasil estão na tabela 2.
Dose de reposição
O tempo de reposição dependerá da causa de base. Pessoas com condições não reversíveis - por exemplo cirurgia bariátrica, anemia perniciosa - receberão reposição durante toda a vida.
A dose indicada para reposição em adultos com sintomas neurológicos ou anemia sintomática é 1000 mcg de cianocobalamina ou hidroxicobalamina por via intramuscular diariamente ou uma a três vezes por semana na primeira semana. Em seguida, recomenda-se mais 1000 mcg uma vez por semana por mais quatro semanas. Após esse período, o tratamento de manutenção é com cianocobalamina 1000 mcg/mês ou hidroxocobalamina 1000 mcg a cada dois meses. Outra opção de manutenção é a reposição por via oral com 1000 a 2000 mcg/dia.
A dose indicada em adultos sem sintomas graves é de 1000 mcg intramuscular uma vez por semana por quatro semanas. Em seguida, a manutenção é feita com cianocobalamina uma vez ao mês ou hidroxocobalamina a cada dois meses. Outra opção é a suplementação oral desde o início do tratamento com 1000 mcg uma vez ao dia, pois é tão eficaz quanto a intramuscular em pacientes sem alteração de absorção.
Em indivíduos com absorção prejudicada de vitamina B12 por gastrite atrófica, a reposição de cobalamina oral em altas doses (por exemplo, 2000 mcg/dia) proporciona a absorção por um mecanismo independente de fator intrínseco no íleo terminal em funcionamento. É uma alternativa razoável como manutenção em pacientes que não toleram a via intramuscular.
Em pessoas vegetarianas e veganas, alterações na dieta ou suplementação oral podem ser consideradas de acordo com a situação clínica, especialmente durante a gravidez e a amamentação.
Monitorização
A frequência da monitorização dependerá da gravidade do quadro. O seguimento deve ser mais frequente em casos de anemia sintomática, sintomas neuropsiquiátricos e gravidez.
Reticulocitose deve ser evidente em sete a dez dias após a reposição, desde que o paciente tenha níveis adequados de ferro e folato. Após esse período, deve-se repetir o hemograma semestralmente no primeiro ano e anualmente após esse intervalo [2].
Em pacientes sem sintomas graves, deve-se repetir hemograma e dosagem sérica de vitamina B12 após 4 a 8 semanas da reposição. Passado esse período, dosa-se com 6 meses e então anualmente.
Ausência de resposta
Em casos de ausência de resposta, deve-se revisitar o diagnóstico inicial e dosar novamente a vitamina B12.
Se o nível sérico de vitamina B12 está adequado, uma resposta abaixo do ideal pode indicar a presença de outra anemia coexistente (por exemplo, deficiência de ferro e/ou folato). Se o nível de vitamina B12 está baixo, deve-se verificar a adesão ao tratamento e a possibilidade de mudança de via (mudar da via oral para parenteral), além da dose utilizada.
Para saber mais sobre essa reposição, escute o episódio 129 - 7 armadilhas sobre vitamina B12.
Aproveite e leia:
Nova Diretriz de Diagnóstico de Deficiência de Vitamina B12
Uma nova diretriz para diagnóstico e manejo da deficiência de vitamina B12 foi publicada em março de 2024 pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido. Este tópico revisa os principais pontos do documento, abordando manifestações clínicas, métodos diagnósticos e causas da deficiência de vitamina B12. O Guia abordou o tratamento de deficiência de vitamina B12 em “Reposição de vitamina B12”.
Tratamento de Síndrome do Intestino Irritável
O tratamento de síndrome do intestino irritável (SII) é desafiador, focando em manejo sintomático e mudança de estilo de vida. Com a publicação do estudo DOMINO, avaliando se a terapia dietética é melhor que a terapia medicamentosa, vemos uma boa oportunidade de revisitar o tema.
Gota: Diagnóstico e Manejo
Gota é uma doença causada pelo depósito de cristais de urato monossódico, derivado do ácido úrico, nas articulações e tecidos. A doença é mais comum em homens e a prevalência aumenta com o envelhecimento, com um platô aos 80 anos. Esse tópico revisa o diagnóstico e tratamento de gota.
Novos Critérios Diagnósticos e Rastreio de Diabetes e Pré-Diabetes
Em julho de 2024, a Sociedade Brasileira de Diabetes atualizou a sua diretriz de diagnóstico e rastreio de diabetes e pré-diabetes. O documento traz mudanças para a prática clínica. O tópico “Novos critérios diagnósticos e rastreio de diabetes e pré-diabetes” comenta sobre as recomendações da diretriz.
Segunda Droga para Diabetes
Metformina é a primeira droga na maioria dos pacientes com diabetes, mas ainda faltam estudos sobre a melhor segunda droga em pacientes com diabetes e baixo risco cardiovascular. Dois estudos publicados no New England Journal of Medicine (NEJM) em setembro de 2022, chamados estudos GRADES, avaliaram essa questão. Vamos ver os achados e revisar o tópico.