Manobras para Tratamento de Vertigem Posicional Paroxística Benigna

Criado em: 17 de Julho de 2023 Autor: João Urbano

A vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é o distúrbio vestibular periférico mais comum. O tratamento é feito com manobras de reposicionamento. Em junho de 2023, um estudo do Journal of the American Medical Association - Neurology (JAMA Neurology) comparou duas manobras para o tratamento da doença [1]. Este tópico revisa a doença e traz detalhes do estudo.

Como reconhecer a VPPB?

Figura 1
Representação do labirinto - labirinto estático (sáculo e utrículo) e dinâmico (canais semicirculares)
Representação do labirinto - labirinto estático (sáculo e utrículo) e dinâmico (canais semicirculares)

A vertigem transitória provocada por mudanças posicionais da cabeça é típica de VPPB. O sintoma dura segundos. O deslocamento de otólitos do utrículo para os canais semicirculares do labirinto estimula as cúpulas e é a causa da doença. O canal posterior é acometido em 85 a 90% das vezes (figura 1).

A manobra diagnóstica mais conhecida é a de Dix-Hallpike (veja o vídeo abaixo). Nela, rotaciona-se a cabeça do paciente em 45º para a direção testada e deita-se o paciente de maneira rápida, deixando sua cabeça pendente em 30º.

A manobra diagnóstica de Semont é uma alternativa (veja o vídeo abaixo). A cabeça do paciente é rotacionada em 45º para o lado contrário ao testado e o paciente é deitado de maneira rápida para o lado contralateral.

As manobras são positivas quando provocam vertigem e nistagmo típico. Os critérios diagnósticos de VPPB de canal posterior e nistagmo típico estão detalhados na tabela 1.

Tabela 1
Critérios diagnósticos de VPPB de canal posterior
Critérios diagnósticos de VPPB de canal posterior

Como realizar o tratamento da VPPB?

O tratamento da VPPB é feito com manobras de reposicionamento. O objetivo das manobras é devolver os otólitos ao utrículo e evitar estímulos inapropriados das cúpulas dos canais semicirculares.

As manobras de Epley e de Semont são as mais usadas para reposicionamento da VPPB de canal posterior. Os vídeos abaixo exemplificam a realização das manobras de Epley e Semont para reposicionamento.

A manobra de Epley é mais fácil de ser realizada em pessoas obesas, enquanto a manobra de Semont é mais apropriada para pacientes com problemas de mobilidade de ombro e pescoço.

Medicações sintomáticas podem ser usadas enquanto o reposicionamento dos otólitos não é realizado. Devem ser prescritas por um período curto, para reduzir náuseas e vômitos. A escolha nesse cenário são os anti-histamínicos como o dimenidrinato.

O que o artigo traz de novo?

A manobra de Semont-Plus foi desenvolvida para aumentar a movimentação dos otólitos. A modificação ocorre na primeira etapa do processo, quando o paciente se deita em um ângulo de 150º. Ou seja, a cabeça deve ficar pendente em 60º (veja vídeo abaixo). Essa adaptação teve melhor desempenho em comparação à manobra de Semont tradicional no tratamento da VPPB do canal posterior [2].

A manobra de Semont-Plus foi comparada à manobra de Epley no estudo publicado pelo JAMA Neurology [1]. Foram incluídos 195 pacientes com diagnóstico de VPPB de canal posterior, randomizados para uma das manobras de reposicionamento. O desfecho primário foi medido em número de dias até resolução do quadro, definida como não haver vertigem induzida por manobra.

No início do tratamento, o paciente era submetido a uma das manobras e recebia orientações verbais para realizá-la em casa nove vezes ao dia - três vezes de manhã, de tarde e de noite.

O tempo para recuperação do quadro de vertigem foi menor no grupo submetido à manobra de Semont-Plus em comparação à manobra de Epley (mediana de 2 vs. 3,3 dias). Reforçando os benefícios da manobra de Semont-Plus no tratamento da VPPB, o estudo traz a necessidade de incorporar essa manobra na prática clínica.

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