Tratamento da Fibrose Pulmonar Idiopática
A fibrose pulmonar idiopática (FPI) é uma doença grave e progressiva. Na conferência da American Thoracic Society de 2022 foi apresentado um estudo com uma nova terapêutica para FPI [1]. Vamos rever o tratamento e explorar essa nova evidência.
O que é fibrose pulmonar idiopática?
A fibrose pulmonar idiopática (FPI) é uma doença intersticial pulmonar. Dentro das doenças pulmonares intersticiais, a FPI é classificada como uma pneumonia intersticial idiopática crônica (ver figura 1).
A causa de FPI não é bem estabelecida. O curso é progressivo e irreversível com alta mortalidade. Os tratamentos disponíveis são capazes de lentificar a progressão, porém não param o avanço da doença.
O paciente clássico é um homem com mais de 60 anos com dispneia crônica e tosse não produtiva. História de tabagismo é comum. A ausculta revela estertores bilaterais em bases. O achado típico na tomografia e na histopatologia é de pneumonia intersticial usual (PIU).
Quais os tratamentos não farmacológicos para FPI?
Os componentes mais importantes do tratamento não farmacológico de FPI são:
- Oxigenioterapia, quando indicada
- Educação, especialmente sobre cessação do tabagismo
- Reabilitação pulmonar
- Vacinação para pneumococo e influenza
Praticamente todos os pacientes com FPI vão precisar de oxigênio em algum momento. As indicações de oxigenoterapia são similares a de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Veja as indicações na tabela 1.
Quais os tratamentos medicamentosos aprovados para FPI?
Existem dois medicamentos aprovados para FPI: nintedanibe e pirfenidona. Ambas reduzem a progressão e podem diminuir a frequência de exacerbações.
O nintedanibe é um inibidor de múltiplas tirosina quinases. A dose é de 150mg duas vezes ao dia. O efeito colateral mais comum é diarreia, ocorrendo em 62% dos pacientes. É necessário monitorizar marcadores de lesão hepática durante o uso. A droga não pode ser utilizada em pacientes com cirrose Child-Pugh B ou C.
A pirfenidona inibe o fator de crescimento transformador beta (TGF-beta), bloqueando fibroblastos e a síntese de colágeno. A medicação é iniciada na dose de uma cápsula (267mg) três vezes ao dia, progredindo até três cápsulas três vezes ao dia. Erupções de pele ocorrem em 30% dos pacientes. Lesão hepática induzida por droga pode acontecer, sendo descritas reações graves e até fatais.
O que essa nova evidência acrescenta?
O estudo testou uma nova droga no tratamento da FPI, um inibidor da fosfodiesterase-4. O trabalho foi apresentado na conferência da American Thoracic Society de 2022 e publicado no New England Journal of Medicine. A droga ainda não tem nome comercial, sendo chamada de BI 1015550.
O trabalho de fase 2 foi duplo cego e comparou o novo remédio contra placebo. O desfecho primário foi a redução da capacidade vital forçada (CVF) em 12 semanas. Foram randomizados 147 pacientes, sendo permitido o uso de antifibróticos ao mesmo tempo.
Não houve variação significativa da CVF naqueles que usaram a droga testada. No grupo placebo que não utilizou antifibróticos, a variação média foi de -81ml. Nos que utilizaram placebo e usavam antifibróticos, a variação média foi de -59ml.
O efeito colateral mais comum foi diarreia. A taxa de efeitos colaterais graves não diferiu entre os grupos.
O estudo traz uma notícia esperançosa no tratamento de FPI. Estudos de fase 3 são necessários para investigar os achados. Outro inibidor da fosfodiesterase-4, o roflumilaste, já é utilizado na DPOC.
Aproveite e leia:
Ventilação Não Invasiva (VNI)
A ventilação mecânica invasiva é essencial no manejo de formas graves de insuficiência respiratória. Contudo, está associada às complicações da intubação e da própria ventilação invasiva. Nesse contexto surge a ventilação não invasiva (VNI), uma tentativa de manejar insuficiência respiratória sem esses riscos. Essa revisão traz as aplicações de VNI, assim como a evidência sobre seu uso, complicações e aspectos técnicos.
Sulfato de Magnésio para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
O sulfato de magnésio tem ação broncodilatadora, sendo útil no tratamento de exacerbações de asma. Não existe recomendação para uso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Uma nova revisão sistemática e meta-análise publicada pela Cochrane avaliou o uso do magnésio na DPOC exacerbada. Vamos ver o que esse trabalho encontrou e revisar no assunto.
POCUS no Derrame Pleural
A ultrassonografia à beira do leito (POCUS) cada vez mais faz parte da avaliação na emergência. Todo dia a técnica é aprimorada e incorporada nos atendimentos. Um artigo do British Medical Journal (BMJ) publicado em janeiro de 2023 trouxe alguns pontos da abordagem do derrame pleural com POCUS. Aproveitamos para revisar esse tópico aqui no Guia.
Pneumonia em Organização Criptogênica
Pneumonia em organização criptogênica (POC) é uma doença pulmonar intersticial idiopática potencialmente reversível com terapia direcionada. A pneumonia em organização ganhou evidência na pandemia de Sars-CoV-2, sendo considerada uma possível consequência de COVID-19. Vamos aproveitar uma revisão recente sobre o tema e abordar os principais pontos sobre esta condição pouco reconhecida.
Betabloqueadores e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
A doença cardiovascular é a principal causa de morte em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Os betabloqueadores são medicamentos que podem reduzir a mortalidade cardiovascular em diversas condições, porém podem aumentar o risco de broncoespasmo e exacerbação de DPOC. O estudo BICS, publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) em maio de 2024, avaliou a segurança do bisoprolol em pacientes com DPOC. Este tópico do guia revisa o tema e resume o estudo.