Será que Tem Evidência?

Betabloqueadores para Hipertensão Arterial

Criado em: 04 de Dezembro de 2023 Autor: Raphael Coelho

Um dos pontos mais polêmicos do tratamento de hipertensão arterial é o uso de betabloqueadores. Inspirados pela nova diretriz da Sociedade Europeia de Hipertensão Arterial (ESH), disponível em novembro de 2023, trazemos hoje uma revisão sobre o tema [1]. Será que tem evidência para usar betabloqueadores na hipertensão?

O que é ser de primeira linha no tratamento da hipertensão arterial (HAS)?

Medicamentos considerados de primeira linha são aqueles que:

  • Reduzem a pressão arterial (PA) em monoterapia.
  • Têm evidência de redução de eventos cardiovasculares e mortalidade em ensaios clínicos randomizados.
  • Têm equivalência em desfechos clínicos em comparação com outras drogas comprovadamente eficazes.
  • Têm perfil de tolerabilidade e segurança favorável.

Outros critérios clinicamente relevantes também são levados em consideração, como evidências sobre a adesão ao tratamento.

Evidências do betabloqueador na hipertensão arterial

Betabloqueadores reduzem eventos cardiovasculares em comparação com placebo no tratamento de HAS. Há evidências conflitantes quanto aos benefícios cardiovasculares em comparação com outros antihipertensivos. A interpretação das metanálises desses estudos é desafiadora, pois foram realizados em épocas diferentes, com variações no manejo desses pacientes particulares de cada momento [2].

Metanálises indicam que betabloqueadores foram inferiores a outros anti-hipertensivos como bloqueadores de canais de cálcio (BCC), diuréticos e iECA/BRA na prevenção de eventos cardiovasculares. Particularmente, betabloqueadores foram inferiores para prevenção de AVC. O estudo ASCOT identificou menos AVC no grupo anlodipino em comparação com o atenolol [3].

Há também evidências de piores desfechos na prevenção de outros eventos cardiovasculares e mortalidade em geral. Apesar disso, diante da eficácia na redução de eventos em comparação com placebo, betabloqueadores podem ser usados em associação com outros anti hipertensivos para pacientes que não atingiram metas pressóricas [4-7].

Betabloqueadores estão entre as drogas menos toleradas pelos pacientes. Para cada paciente em que um infarto ou AVC foi prevenido, três tiveram disfunção erétil e oito tiveram fadiga suficiente para levar à suspensão da terapia [8].

Há aumento do risco de diabetes e dislipidemia com uso de betabloqueadores, como o atenolol. Carvedilol, nebivolol e labetalol, que têm ação vasodilatadora, não têm impacto negativo, mas não foram testados para desfechos cardiovasculares no tratamento de HAS.

A maior parte dos achados sobre betabloqueadores para HAS são com atenolol. Mais estudos devem ser realizados para entender as diferenças entre subtipos de betabloqueadores e entre as populações que mais poderiam se beneficiar dessa classe de medicamentos.

Quando usar beta-bloqueador no paciente hipertenso?

Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) é a principal indicação para uso de betabloqueadores em pacientes hipertensos.

Há outras condições em que os betabloqueadores são indicados:

  • Pós-infarto agudo do miocárdio
  • Angina estável
  • Para o controle da frequência cardíaca
  • Em mulheres com potencial de engravidar

Para pacientes com ICFER, betabloqueadores reduzem mortalidade, hospitalizações e gravidade dos sintomas.

São indicados como primeira linha para pacientes com doença coronariana isquêmica que infartaram ou que têm angina estável. Algumas diretrizes recomendam o uso por três anos, considerando razoável a manutenção da droga além desse período. Outras recomendam o uso por até um ano [2, 6].

Recomenda-se também os betabloqueadores para tratamento de doença aórtica torácica e dissecção crônica de aorta. Não devem ser utilizados nos pacientes com insuficiência aórtica pelo risco de piora do quadro.

Betabloqueadores são uma opção segura para mulheres férteis ou gestantes. Para pacientes com asma, os betabloqueadores de escolha são atenolol, bisoprolol e metoprolol [2].

O que as diretrizes dizem?

É consenso que os benefícios e os riscos são similares entre iECA, BRA, bloqueadores de canais de cálcio e diuréticos tiazídicos. Por isso, são considerados de primeira linha por todas as diretrizes avaliadas nesta revisão.

As últimas diretrizes americanas de hipertensão da AHA/ACC destacam que betabloqueadores são inferiores aos tiazídicos, iECA, BRA e BCC. Consideram inadequado o uso de betabloqueadores para tratamento inicial de HAS na ausência de comorbidades específicas que os indiquem [2].

As diretrizes brasileiras de hipertensão de 2020 apontam que devem ser utilizados quando há condições clínicas específicas que indiquem seu uso [9]. Também não são considerados de primeira linha pelas diretrizes da OMS de 2021, Veterans Affairs de 2020 e NICE de 2022 [6, 10, 11].

As novas diretrizes da ESH de 2023, trouxeram como recomendação forte as cinco classes de drogas, gerando uma interpretação de que os betabloqueadores seriam considerados de primeira linha [1]. Uma carta ao Lancet critica o documento, mencionando que os autores optaram por uma mensagem mais direta e simplificada, mas falharam no apontamento da inferioridade dos betabloqueadores em relação aos outros anti-hipertensivos [8]. A Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) não esteve presente no documento, diferentemente de 2018, quando os betabloqueadores não foram colocados na primeira linha.

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Guidelines

2023 ESH Guidelines for the management of arterial hypertension The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension: Endorsed by the International Society of Hypertension (ISH) and the European Renal Association (ERA)

2023 ESH Guidelines for the management of arterial hypertension The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension: Endorsed by the International Society of Hypertension (ISH) and the European Renal Association (ERA)

Mancia G, Kreutz R, Brunström M, Burnier M, Grassi G, Januszewicz A, Muiesan ML, Tsioufis K, Agabiti-Rosei E, Algharably EAE, Azizi M, Benetos A, Borghi C, Hitij JB, Cifkova R, Coca A, Cornelissen V, Cruickshank JK, Cunha PG, Danser AHJ, Pinho RM, Delles C, Dominiczak AF, Dorobantu M, Doumas M, Fernández-Alfonso MS, Halimi JM, Járai Z, Jelaković B, Jordan J, Kuznetsova T, Laurent S, Lovic D, Lurbe E, Mahfoud F, Manolis A, Miglinas M, Narkiewicz K, Niiranen T, Palatini P, Parati G, Pathak A, Persu A, Polonia J, Redon J, Sarafidis P, Schmieder R, Spronck B, Stabouli S, Stergiou G, Taddei S, Thomopoulos C, Tomaszewski M, Van de Borne P, Wanner C, Weber T, Williams B, Zhang ZY, Kjeldsen SE. 2023 ESH Guidelines for the management of arterial hypertension The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension: Endorsed by the International Society of Hypertension (ISH) and the European Renal Association (ERA). J Hypertens. 2023.

2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines

2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines

Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, Casey DE Jr, Collins KJ, Dennison Himmelfarb C, DePalma SM, Gidding S, Jamerson KA, Jones DW, MacLaughlin EJ, Muntner P, Ovbiagele B, Smith SC Jr, Spencer CC, Stafford RS, Taler SJ, Thomas RJ, Williams KA Sr, Williamson JD, Wright JT Jr. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Hypertension. 2018.

Hypertension in adults: diagnosis and management

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London: National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Hypertension in adults: diagnosis and management. NICE. 2022.

Brazilian Guidelines of Hypertension - 2020

Brazilian Guidelines of Hypertension - 2020

Barroso WKS, Rodrigues CIS, Bortolotto LA, Mota-Gomes MA, Brandão AA, Feitosa ADM, Machado CA, Poli-de-Figueiredo CE, Amodeo C, Mion Júnior D, Barbosa ECD, Nobre F, Guimarães ICB, Vilela-Martin JF, Yugar-Toledo JC, Magalhães MEC, Neves MFT, Jardim PCBV, Miranda RD, Póvoa RMDS, Fuchs SC, Alessi A, Lucena AJG, Avezum A, Sousa ALL, Pio-Abreu A, Sposito AC, Pierin AMG, Paiva AMG, Spinelli ACS, Nogueira ADR, Dinamarco N, Eibel B, Forjaz CLM, Zanini CRO, Souza CB, Souza DDSM, Nilson EAF, Costa EFA, Freitas EV, Duarte EDR, Muxfeldt ES, Lima Júnior E, Campana EMG, Cesarino EJ, Marques F, Argenta F, Consolim-Colombo FM, Baptista FS, Almeida FA, Borelli FAO, Fuchs FD, Plavnik FL, Salles GF, Feitosa GS, Silva GVD, Guerra GM, Moreno Júnior H, Finimundi HC, Back IC, Oliveira Filho JB, Gemelli JR, Mill JG, Ribeiro JM, Lotaif LAD, Costa LSD, Magalhães LBNC, Drager LF, Martin LC, Scala LCN, Almeida MQ, Gowdak MMG, Klein MRST, Malachias MVB, Kuschnir MCC, Pinheiro ME, Borba MHE, Moreira Filho O, Passarelli Júnior O, Coelho OR, Vitorino PVO, Ribeiro Junior RM, Esporcatte R, Franco R, Pedrosa R, Mulinari RA, Paula RB, Okawa RTP, Rosa RF, Amaral SLD, Ferreira-Filho SR, Kaiser SE, Jardim TSV, Guimarães V, Koch VH, Oigman W, Nadruz W. Brazilian Guidelines of Hypertension - 2020. Arq Bras Cardiol. 2021.

Guideline for the pharmacological treatment of hypertension in adults

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World Health Organization. Guideline for the pharmacological treatment of hypertension in adults. World Health Organization. 2021.

Synopsis of the 2020 U.S. Department of Veterans Affairs/U.S. Department of Defense Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of Hypertension in the Primary Care Setting

Synopsis of the 2020 U.S. Department of Veterans Affairs/U.S. Department of Defense Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of Hypertension in the Primary Care Setting

Tschanz CMP, Cushman WC, Harrell CTE, Berlowitz DR, Sall JL. Synopsis of the 2020 U.S. Department of Veterans Affairs/U.S. Department of Defense Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of Hypertension in the Primary Care Setting. Ann Intern Med. 2020.