Tirzepatida: novo medicamento para obesidade

Criado em: 11 de Julho de 2022 Autor: Raphael Coelho

A World Obesity Federation estima que em 2030 haverá 1 bilhão de pessoas com obesidade no mundo. Em junho de 2022, foi publicado no New England Journal of Medicine o artigo SURMOUNT-1, que estudou a tirzepatida e atingiu resultados importantes no tratamento da obesidade [1]. Aqui revisamos os medicamentos para obesidade e trazemos essa nova evidência.

Medicamentos para obesidade no Brasil

No Brasil, há alguns medicamentos com indicação específica e outras "off label" para tratamento de obesidade. A eficácia das medicações é diferente. As opções estão na tabela 1.

Tabela 1
Medicamentos para obesidade no Brasil
Medicamentos para obesidade no Brasil

Agonistas da GLP-1, liraglutida e semaglutida, são cada vez mais usados por aqui. Atuam nos receptores da incretina GLP-1, um peptídeo gastrointestinal que estimula a secreção da insulina dependente de glicose, inibe a liberação de glucagon e o esvaziamento gástrico. Ambos são medicamentos subcutâneos, sendo a liraglutida de uso diário e a semaglutida, uma vez por semana.

O estudo STEP-8, publicado em janeiro de 2022 no Journal of the American Medical Association (JAMA), comparou liraglutida versus semaglutida [2]. O artigo encontrou que a semaglutida subcutânea possui um efeito maior do que a liraglutida, com uma diferença média de 10% a mais de perda de peso.

Para saber mais, ouça o Episódio 112: Obesidade - Tratamento Medicamentoso.

Tirzepatida: agonista duplo

Além do GLP-1, o peptídeo inibidor gástrico (GIP) é outra substância estimulada pela alimentação. O GIP participa da regulação do balanço energético do organismo, atuando na sinalização nos adipócitos e sistema nervoso central. A tirzepatida é um novo medicamento desenvolvido para atuar nessas duas frentes - agonista dos receptores de GLP-1 e também do GIP.

Resultados com tirzepatida

O SURMOUNT-1 foi um estudo de fase 3 com tirzepatida. Multicêntrico, duplo-cego, randomizado e controlado com placebo, o trabalho foi financiado pela indústria farmacêutica Eli Lilly. Mais de 2500 adultos foram incluídos, sendo mais de 90% da amostra com IMC maior do que 30 e uma minoria com sobrepeso

Os pacientes foram randomizados para utilizarem placebo ou tirzepatida nas doses de 5, 10 ou 15 mg uma vez por semana via subcutânea, com aumento progressivo de 2.5 mg por etapa. Todos os grupos, inclusive o placebo, fizeram dieta e exercícios físicos (150 min/semana). Foram excluídos os diabéticos e não houve ninguém com mais de 60 anos na amostra.

Após 72 semanas, os pacientes que usaram as doses de 10 e 15 mg tiveram em torno de 15 a 20% de perda de peso a mais em relação ao placebo. Em média, 20 quilos a mais foram perdidos em relação ao grupo que fez apenas mudança de estilo de vida e placebo. A dose de 5 mg também teve bom resultado, mas em menor escala, em torno de 13% de perda de peso sobre o placebo.

Efeitos adversos e segurança

Entre 4 a 7% dos pacientes utilizando a medicação descontinuaram o tratamento por efeitos adversos, sendo a desistência mais frequente no grupo intervenção do que no grupo placebo.

O estudo foi realizado em plena pandemia de COVID-19, de dezembro de 2019 a abril de 2022. Mesmo assim, 81% dos pacientes completaram o estudo. Os eventos adversos graves reportados foram relacionados ao COVID-19: 11 pacientes morreram durante o período. Não houve aumento de casos de pancreatite ou câncer medular da tireoide, em relação ao placebo.

Mais pacientes em uso de tirzepatida tiveram colecistite em comparação ao placebo. É plausível que isso tenha ocorrido pela rápida perda de peso. Porém, foram poucos pacientes e não é possível determinar causalidade.

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