Reposição Intravenosa de Ferro
A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia no mundo. A reposição intravenosa de ferro é preferida em alguns casos devido a rápida correção da hemoglobina. Em maio de 2022, o Annals of Internal Medicine publicou um trabalho sobre o risco de anafilaxia associada ao uso de ferro intravenoso [1]. Aproveitando o artigo, vamos revisar o tema.
Quais são as indicações de ferro intravenoso?
O ferro parenteral pode ser a via preferida nas seguintes situações:
- Não respondedores à reposição oral por intolerância gastrointestinal
- Má absorção, doença inflamatória intestinal ou problemas com a via de administração (por exemplo, disfagia severa) [2]
- Doença renal crônica
- Sangramento persistente, excedendo a capacidade de reposição oral (sangramento uterino intenso, telangiectasias mucosas
- Estados inflamatórios que interferem na homeostasia do ferro
Como repor?
Uma maneira de calcular o déficit de ferro é pela fórmula de Ganzoni [3, 4]. O cálculo é o seguinte:
Dose total de ferro em mg = peso (Kg) x (Hb alvo - Hb atual) x 2.4 (veja uma calculadora da dose total de ferro).
Ao resultado da fórmula, deve-se adicionar 500 mg a mais para adultos e crianças com peso ≥ 35 kg ou 15 mg/kg se o peso for < 35 kg.
Após o cálculo, deve-se dividir o valor total pela quantidade de ferro total da solução disponível para programação de número total de infusões. Sempre seguir a velocidade de infusão recomendada e a dose máxima por reposição.

Alguns produtos trazem na bula tabelas para a estimativa da dose baseadas no peso e no nível de hemoglobina. Veja as formulações disponíveis na tabela 1.
Complicações da reposição de ferro intravenosa: quais são as evidências?
As evidências demonstram a eficácia do ferro intravenoso, porém os dados de segurança são conflitantes. As duas principais preocupações são o risco de infecções e a anafilaxia.
Em novembro de 2021, o Journal of the American Medical Association (JAMA) publicou uma metanálise que avaliou o risco de infecção associada à infusão de ferro [5]. Foram levantados 162 artigos, destes 154 eram ensaios clínicos randomizados, incluindo mais de 32 mil pacientes.
A metanálise encontrou que o uso de ferro intravenoso estava associado a um maior risco de infecção quando comparado com ferro oral ou placebo. Contudo, o incremento de risco foi pequeno (risco relativo de 1,16). Além disso, variações significativas e inconsistências nas definições de infecção ocorreram em muitos estudos. De um modo geral, os estudos encontraram um risco baixo ou nulo de infecção associado ao ferro intravenoso [5, 6].
Em relação a anafilaxia, em maio de 2022, o Annals of Internal Medicine publicou uma coorte retrospectiva sobre o risco de anafilaxia associada ao uso de ferro intravenoso [7].
A população do estudo apresentava idade média de 77 anos, com predomínio do sexo feminino. As principais condições associadas eram doença renal crônica e sangramento gastrointestinal. O estudo avaliou 5 formulações de ferro intravenoso, porém não incluiu derisomaltose férrica (não estava aprovada para uso na época).
Os autores concluíram que o risco de anafilaxia era baixo com todas as 5 apresentações estudadas. No entanto, na comparação entre os medicamentos, o ferumoxitol e o ferro dextrano estavam associados a aumentos de 3 e 8 vezes, respectivamente, no risco de anafilaxia quando comparado com a sacarato de ferro. O artigo também fornece dados tranquilizadores com relação ao risco de anafilaxia com carboximaltose férrica, que teve um rápido aumento no uso após dados clínicos favoráveis.
Diferente das reações alérgicas, o ferro intravenoso pode causar reações relacionadas à própria infusão. Esses sintomas não são alérgicos e incluem urticária, palpitações, tontura e espasmo no pescoço e lombar. Outro evento que não é alérgico é a reação de Fishbane, que consiste em flush facial e mialgias no dorso e tórax. Uma possibilidade é que essa reação se deva a ativação do complemento.
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