Atualização sobre a Nova Diretriz de Fibrilação Atrial da ESC 2024

Criado em: 18 de Novembro de 2024 Autor: Pedro Rafael Del Santo Magno Revisor: João Mendes Vasconcelos

O Congresso Europeu de Cardiologia, realizado em setembro de 2024, apresentou uma nova diretriz de fibrilação atrial, atualizando as recomendações previamente publicadas em 2020 [1]. Este tópico comenta as principais novidades do documento.

Este tópico é uma atualização sobre o manejo da fibrilação atrial. Para mais informações sobre o assunto, confira a revisão "Fibrilação Atrial" e os tópicos "Fibrilação Atrial Durante Hospitalização" e "Controle Farmacológico de Frequência Cardíaca na Fibrilação Atrial".

Comorbidades

A nova diretriz de fibrilação atrial (FA) da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, de European Society of Cardiology) reforça a necessidade do controle das doenças concomitantes à arritmia (recomendação forte). Entre essas condições, estão a obesidade, síndrome da apneia do sono, hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus e transtorno do uso do álcool. 

Para isso, a diretriz criou o mnemônico CARE, para orientar o acompanhamento e tratamento da FA:

  • C - Comorbidades: tratamento de comorbidades e fatores de risco impactam nos desfechos da FA.
  • A - Anticoagulação: decidir se o paciente é alto risco para eventos tromboembólicos e o medicamento mais apropriado.
  • R - Reduzir sintomas: introdução de medicamentos para evitar sintomas relacionados à FA como palpitação. Avaliar a necessidade de procedimentos invasivos, como ablação.
  • E de Evaluation - "Avaliação" Periódica: reavaliar frequentemente se o paciente está controlando a FA, se há novos fatores de riscos ou comorbidades a serem abordadas e utilizar estratégias para reduzir riscos modificáveis de sangramento.

Novidades sobre anticoagulação

Uma novidade é a atualização do escore para classificar os pacientes com FA como de alto risco para eventos tromboembólicos. O CHA₂DS₂-VASc foi substituído pelo CHA₂DS₂-VA (ver tabela 1). A pontuação conferida pelo sexo feminino foi retirada. Essa mudança ocorreu por dois motivos: falta de impacto clínico dessa variável, pois essa pontuação era ignorada no momento de definir a anticoagulação, e não inclusão de pessoas não-binárias, transgêneras ou recebendo terapia hormonal.

[tabela id=1010 index=1]

O escore atual CHA₂DS₂-VA não inclui gênero e a diretriz define que é recomendado a anticoagulação em pacientes que pontuam pelo menos 2 pontos. A anticoagulação em pacientes que pontuam 1 ponto pode ser considerada e a decisão deve ser compartilhada e avaliada caso a caso. 

Outra mudança da diretriz foi o corte de tempo para cardioversão de FA aguda sem sinais de instabilidade. A diretriz recomenda que a cardioversão pode ser feita na FA aguda estável se o paciente apresentar um episódio novo de FA em menos de 24 horas. Na diretriz de 2020, o corte era de menos de 48 horas. Caso o paciente tenha a FA aguda por mais de 24 horas, é necessário excluir trombo no átrio esquerdo com um ecocardiograma transesofágico ou decidir pela anticoagulação por 3 semanas antes da cardioversão. 

[tabela id=1011 index=2]

A diretriz também traz foco para as possíveis interações medicamentosas que possam diminuir a eficácia dos anticoagulantes em uso. A tabela 2 resume essas informações.

Aproveite e leia:

7 de Agosto de 2023

Controle Farmacológico de Frequência Cardíaca na Fibrilação Atrial

O controle da frequência cardíaca na fibrilação atrial é parte essencial do manejo. O controle de frequência reduz a incidência de taquicardiomiopatia e diminui sintomas. Esse tópico do "como fazer" revisa o controle farmacológico de frequência cardíaca na fibrilação atrial.

23 de Outubro de 2023

Fibrilação Atrial Durante Hospitalização

Fibrilação atrial no paciente internado é comum e o manejo tem particularidades quando comparado ao de pacientes ambulatoriais ou em sala de emergência. Em março de 2023, a American Heart Association publicou um posicionamento sobre fibrilação atrial nova em pacientes hospitalizados. Este tópico resume as principais recomendações do documento.

17 de Março de 2025

Anticoagulação na Doença Renal Crônica

A presença de doença renal crônica (DRC) está associada tanto a um maior risco de sangramento quanto a um maior risco tromboembólico. Diversos estudos sobre o uso de anticoagulantes excluíram pacientes portadores de DRC, reduzindo a certeza das condutas nesse grupo. Este tópico revisa as principais evidências e recomendações de anticoagulação nessa população, com base nas diretrizes do Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) de 2024 e em estudos recentes.

29 de Janeiro de 2024

Fibrilação Atrial

Fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais comum. A prevalência está aumentando em função do crescimento de alguns fatores de risco, da sobrevida de pacientes com doenças cardiovasculares e do envelhecimento populacional. Essa revisão traz as principais recomendações da diretriz americana de FA publicada em dezembro de 2023 pelo American College of Cardiology em conjunto com a American Heart Association.

14 de Abril de 2025

Anticoagulantes Orais Diretos (DOACs): Bulário

Os anticoagulantes orais diretos (DOACs) formam um grupo de medicamentos composto por inibidores do fator X ativado - apixabana (Eliquis ®), edoxabana (Lixiana ®) e rivaroxabana (Xarelto ®) - e por um inibidor direto da trombina, a dabigatrana (Pradaxa ®). Este tópico revisa as principais indicações e doses recomendadas dos DOACs para cada situação clínica, além de destacar cuidados no uso e possíveis eventos adversos.