Atualização sobre a Nova Diretriz de Fibrilação Atrial da ESC 2024
O Congresso Europeu de Cardiologia, realizado em setembro de 2024, apresentou uma nova diretriz de fibrilação atrial, atualizando as recomendações previamente publicadas em 2020 [1]. Este tópico comenta as principais novidades do documento.
Este tópico é uma atualização sobre o manejo da fibrilação atrial. Para mais informações sobre o assunto, confira a revisão "Fibrilação Atrial" e os tópicos "Fibrilação Atrial Durante Hospitalização" e "Controle Farmacológico de Frequência Cardíaca na Fibrilação Atrial".
Comorbidades
A nova diretriz de fibrilação atrial (FA) da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, de European Society of Cardiology) reforça a necessidade do controle das doenças concomitantes à arritmia (recomendação forte). Entre essas condições, estão a obesidade, síndrome da apneia do sono, hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus e transtorno do uso do álcool.
Para isso, a diretriz criou o mnemônico CARE, para orientar o acompanhamento e tratamento da FA:
- C - Comorbidades: tratamento de comorbidades e fatores de risco impactam nos desfechos da FA.
- A - Anticoagulação: decidir se o paciente é alto risco para eventos tromboembólicos e o medicamento mais apropriado.
- R - Reduzir sintomas: introdução de medicamentos para evitar sintomas relacionados à FA como palpitação. Avaliar a necessidade de procedimentos invasivos, como ablação.
- E de Evaluation - "Avaliação" Periódica: reavaliar frequentemente se o paciente está controlando a FA, se há novos fatores de riscos ou comorbidades a serem abordadas e utilizar estratégias para reduzir riscos modificáveis de sangramento.
Novidades sobre anticoagulação
Uma novidade é a atualização do escore para classificar os pacientes com FA como de alto risco para eventos tromboembólicos. O CHA₂DS₂-VASc foi substituído pelo CHA₂DS₂-VA (ver tabela 1). A pontuação conferida pelo sexo feminino foi retirada. Essa mudança ocorreu por dois motivos: falta de impacto clínico dessa variável, pois essa pontuação era ignorada no momento de definir a anticoagulação, e não inclusão de pessoas não-binárias, transgêneras ou recebendo terapia hormonal.
O escore atual CHA₂DS₂-VA não inclui gênero e a diretriz define que é recomendado a anticoagulação em pacientes que pontuam pelo menos 2 pontos. A anticoagulação em pacientes que pontuam 1 ponto pode ser considerada e a decisão deve ser compartilhada e avaliada caso a caso.
Outra mudança da diretriz foi o corte de tempo para cardioversão de FA aguda sem sinais de instabilidade. A diretriz recomenda que a cardioversão pode ser feita na FA aguda estável se o paciente apresentar um episódio novo de FA em menos de 24 horas. Na diretriz de 2020, o corte era de menos de 48 horas. Caso o paciente tenha a FA aguda por mais de 24 horas, é necessário excluir trombo no átrio esquerdo com um ecocardiograma transesofágico ou decidir pela anticoagulação por 3 semanas antes da cardioversão.
A diretriz também traz foco para as possíveis interações medicamentosas que possam diminuir a eficácia dos anticoagulantes em uso. A tabela 2 resume essas informações.
Aproveite e leia:
Fibrilação Atrial
Fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais comum. A prevalência está aumentando em função do crescimento de alguns fatores de risco, da sobrevida de pacientes com doenças cardiovasculares e do envelhecimento populacional. Essa revisão traz as principais recomendações da diretriz americana de FA publicada em dezembro de 2023 pelo American College of Cardiology em conjunto com a American Heart Association.
Fibrilação Atrial Durante Hospitalização
Fibrilação atrial no paciente internado é comum e o manejo tem particularidades quando comparado ao de pacientes ambulatoriais ou em sala de emergência. Em março de 2023, a American Heart Association publicou um posicionamento sobre fibrilação atrial nova em pacientes hospitalizados. Este tópico resume as principais recomendações do documento.
Controle Farmacológico de Frequência Cardíaca na Fibrilação Atrial
O controle da frequência cardíaca na fibrilação atrial é parte essencial do manejo. O controle de frequência reduz a incidência de taquicardiomiopatia e diminui sintomas. Esse tópico do "como fazer" revisa o controle farmacológico de frequência cardíaca na fibrilação atrial.
Polipílula no Pós Infarto Agudo do Miocárdio
O estudo SECURE, publicado no New England Journal of Medicine, avaliou a estratégia da polipílula em pacientes que haviam infartado recentemente. Vamos tentar desmistificar esse tema e trazer os resultados de um dos estudos mais debatidos no congresso da European Society of Cardiology (ESC) de 2022.
Revascularização na Miocardiopatia Isquêmica
A doença arterial coronariana é a principal causa de miocardiopatia no mundo. O estudo REVIVED, anunciado no congresso da European Society of Cardiology (ESC) de 2022, avaliou se a revascularização através de angioplastia poderia ser benéfica em pacientes com miocardiopatia isquêmica. Vamos ver o que essa nova evidência acrescentou e revisar o tópico.