Atualizações em Hipertensão Arterial Sistêmica: Diretrizes da AHA e SBC de 2025
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a American Heart Association (AHA) publicaram novas diretrizes de hipertensão arterial sistêmica em 2025. Este tópico resume as principais atualizações dos documentos, com foco nas novas recomendações de manejo [1,2].
O Guia TdC já abordou o diagnóstico e tratamento de hipertensão arterial sistêmica em "Diretriz de Hipertensão Arterial da ESC 2024 e Como Iniciar Tratamento de Hipertensão".
Rastreio de hiperaldosteronismo primário
Uma das principais atualizações da diretriz americana é a sugestão de rastreio de hiperaldosteronismo primário (HAP) mais ampla em pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS). A diretriz da European Society of Cardiology (ESC) de 2024 já trouxe essa tendência, que foi reforçada pela Sociedade Europeia de Endocrinologia em julho de 2025 [3,4].
A prevalência de HAP é maior do que se supunha [5]. Essa é uma causa potencialmente reversível de HAS e implica maior risco cardiovascular para os pacientes.
A American Heart Association (AHA) recomenda o rastreio de HAP para todos os pacientes com HAS e qualquer um dos seguintes (recomendação I, nível de evidência C):
- Hipertensão resistente (uso de três medicamentos, sendo um diurético, ou mais de quatro medicamentos, independente da classe).
- Hipocalemia, na presença ou não de diureticoterapia.
- Apneia obstrutiva do sono.
- Tumor adrenal, mesmo se descoberto incidentalmente.
- História familiar de hipertensão de início antes dos 40 anos.
- AVC isquêmico antes dos 40 anos.
Adicionalmente, a AHA coloca como opção uma estratégia de rastreio mais ampla, sugerindo que o rastreio pode ser considerado em todos os pacientes com HAS estágio II (pressão arterial > 140/90 mmHg) no momento do diagnóstico (recomendação 2b, nível de evidência C). Essa orientação está alinhada à diretriz europeia. Estudos de custo-efetividade sugerem que o recurso direcionado para o rastreio de HAP nessa população pode diminuir o custo com complicações cardiovasculares no futuro [6,7].
A suspeita de HAP aumenta conforme o grau de hipertensão. Pacientes com HAS estágio II (pressão arterial > 140/90 mmHg) possuem prevalência de HAP semelhante a pacientes com hipertensão resistente, cerca de 22% [5]. O documento reforça que a decisão de investigar HAP para todos os pacientes com HAS deve ser contextualizada, considerando a alocação de recursos locais.
Para facilitar o rastreio, a AHA recomenda a dosagem de renina e aldosterona sem a necessidade de suspensão de medicamentos anti-hipertensivos, exceto os antagonistas do receptor de mineralocorticoide, como espironolactona (recomendação I, nível de evidência C). O objetivo é reduzir o atraso na investigação. Veja mais informações sobre o fluxo de investigação em "Diretriz de Hiperaldosteronismo Primário de 2025".
A nova diretriz brasileira de HAS não se posiciona quanto ao rastreio de HAP em todos os pacientes com HAS. A publicação mantém a recomendação anterior de investigar HAP em pacientes com hipertensão resistente, associada à investigação de doença renovascular e de apneia obstrutiva do sono.
Estágios de hipertensão e metas pressóricas
Os documentos atualizaram os valores e os estágios de HAS e almejam metas de pressão mais baixas (tabela 1). A publicação brasileira reforça o posicionamento da ESC, conceituando o estágio “pré-hipertensão” como pacientes com pressão arterial sistólica (PAS) entre 120 e 139 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) entre 80 e 89 mmHg. A AHA considera como hipertensos pacientes com PAS ≥ 130 mmHg ou PAD ≥ 80 mmHg.
Os documentos convergem na recomendação de que pacientes com pressão arterial 130–139/80–89 mmHg (considerados “pré-hipertensão” pela SBC ou hipertensão estágio I pela AHA) devem iniciar tratamento medicamentoso se apresentarem história de (Recomendação I, nível de evidência A):
- Insuficiência cardíaca ou doença cardiovascular (como doença arterial coronariana e AVC).
- Diabetes.
- Doença renal crônica (DRC).
- Na ausência de comorbidades, ambas utilizam a calculadora PREVENT para orientar a decisão nesse grupo. A AHA recomenda que seja iniciada terapia farmacológica se risco ≥ 7,5% em 10 anos. A SBC coloca como limiar um risco de 20% ou maior e que a terapia medicamentosa poderia ser iniciada após três meses de medidas não-farmacológicas.
Ou seja, na ausência de comorbidades, o escore PREVENT determina a necessidade de tratamento de pacientes com pressão arterial 130–139/80–89 mmHg. Confira o manejo no fluxograma 1.
A calculadora PREVENT é um destaque em ambas as diretrizes, considerada parte da avaliação do paciente hipertenso. Veja mais em "Avaliação de Risco Cardiovascular: Calculadora PREVENT".
As sociedades brasileira e americana reforçam que o tratamento deve ser iniciado com a associação de dois anti-hipertensivos para quase todos os pacientes com HAS. A monoterapia fica reservada para pacientes ≥ 85 anos, com risco de hipotensão ortostática ou com hipertensão estágio I (pela definição da AHA). Os medicamentos de escolha para terapia inicial são os tiazídicos, inibidores de enzima conversora de angiotensina (iECA), bloqueadores de receptores da aldosterona (BRA) e bloqueadores dos canais de cálcio diidropiridínicos (como anlodipino e nifedipino) (tabela 2).
Tanto a SBC 2025 quanto a AHA/ACC 2025 indicam a meta de pressão arterial < 130/80 mmHg, com individualização em cenários de fragilidade, ortostatismo ou expectativa de vida limitada.
Veja mais em "Diretriz de Hipertensão Arterial da ESC 2024 e Como Iniciar Tratamento de Hipertensão".
Hipertensão resistente e denervação renal
Hipertensão resistente é definida como uma pressão arterial persistentemente elevada apesar do uso de três medicamentos anti-hipertensivos de classes diferentes, incluindo um diurético, ou necessidade de mais de quatro medicamentos para manter a pressão arterial na meta (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40811516/,https://abccardiol.org/article/diretriz-brasileira-de-hipertensao-arterial-2025/). Em comparação com pacientes com HAS que não são considerados resistentes, aqueles com HAS resistente possuem risco 50% maior de evoluir com desfechos cardiovasculares desfavoráveis, como infarto agudo do miocárdio e AVC (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31023262/).
Caracterizar o paciente com HAS resistente leva a duas condutas:
- Investigar causas secundárias, válido para todos com HAS resistente (tabela 3) (recomendação I, nível de evidência B).
- Revisar a prescrição (tabela 4), procurando interações que diminuam o efeito dos anti-hipertensivos ou oportunidades de melhoria na adesão (recomendação I, nível de evidência B).
A denervação renal é uma possibilidade de tratamento para pacientes com HAS resistente. Essa intervenção consiste na ablação dos nervos simpáticos das artérias renais por radiofrequência ou ultrassonografia. É um procedimento minimamente invasivo e que reduz a PAS em torno de 4 a 6 mmHg (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36853250/).
O uso é reservado para pacientes com taxa de filtração glomerular ≥ 40 mL/min/1,73 m² e viabilidade anatômica para o procedimento. A indicação é para pacientes com HAS resistente e risco cardiovascular alto associado a intolerância ou contraindicação à associação farmacológica (recomendação 2b, nível de evidência B). A diretriz americana recomenda acompanhamento multidisciplinar com equipe experiente e acompanhamento pós-procedimento com vigilância para estenose ou dissecção da artéria renal.
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