Pneumonia em Organização Criptogênica
Pneumonia em organização criptogênica (POC) é uma doença pulmonar intersticial idiopática potencialmente reversível com terapia direcionada. A pneumonia em organização ganhou evidência na pandemia de Sars-CoV-2, sendo considerada uma possível consequência de COVID-19. Vamos aproveitar uma revisão recente sobre o tema e abordar os principais pontos sobre esta condição pouco reconhecida [1].
O que é pneumonia em organização?
Pneumonia em organização é um padrão histológico de reparo tecidual pulmonar após injúria alveolar. Pode ter uma etiologia conhecida ou não.
As principais etiologias de pneumonia em organização são:
- Pneumonias bacterianas.
- Pneumonias virais.
- Infecções fúngicas.
- Medicamentos - amiodarona, nitrofurantoína, bleomicina e metotrexate.
- Doenças reumatológicas.
- Leucemias e Linfomas.
- Transplante.
- Radiação.
- Doenças inflamatórias intestinais.
- Injúria por inalação.
Os casos sem esclarecimento etiológico são nomeados de pneumonia em organização criptogênica (POC). A POC, previamente chamada de bronquiolite obliterante com pneumonia em organização (BOOP), está no grupo das pneumonias intersticiais idiopáticas. É uma condição inflamatória e fibroproliferativa intra-alveolar potencialmente reversível com terapia imunossupressora e, por este motivo, há a necessidade do seu reconhecimento.
Como a POC se manifesta clinicamente?
Deve-se suspeitar de POC em pacientes com diagnóstico presumido de pneumonia infecciosa que não melhoram após uso de antibióticos. Em comparação com os casos de pneumonia de origem infecciosa, tende a ter evolução mais subaguda em semanas a meses. Em um número menor dos casos, pode ter curso agudo e progressivo, dita variante fulminante. O paciente clássico está na 5ª e 6ª décadas de vida.
Apenas 25 a 50% dos pacientes fumam ou já fumaram, tornando o tabagismo um fator precipitante improvável.
Dos sintomas e sinais mais comuns:
- Tosse seca - 71%
- Dispneia - 62% - tende a ser leve a moderada, com piora ao esforço
- Febre - 44%
- Sintomas de via aérea alta - 10 a 15%.
- Estertores crepitantes inspiratórios - 60% dos casos.
Como prosseguir com a avaliação diagnóstica?
O diagnóstico se baseia na clínica, exames de imagem e histopatológico.
Não há nenhum exame laboratorial específico de POC. Marcadores inflamatórios costumam estar elevados. Na suspeita de doenças reumatológicas ou autoimunes, recomenda-se solicitar painel de autoanticorpos, visto que o quadro respiratório pode preceder o início destas doenças.

Os exames de imagem podem ter padrões diversos (figura 1):
- O padrão predominante na tomografia de tórax (preferencialmente de alta resolução) é de consolidações multifocais de predomínio periférico, com ou sem broncogramas aéreos.
- Achados menos frequentes mas possíveis são: opacidades em vidro-fosco ou nódulos difusos; padrão peribroncovascular com consolidações; lesões focais; fibrose linear ou em banda. A presença do sinal do halo reverso/sinal do atol é incomum, mas parece ser relativamente específico [2].
O lavado broncoalveolar é recomendado na suspeita de POC. Esse exame auxilia no diagnóstico diferencial de causas infecciosas e outras doenças pulmonares, como pneumonia eosinofílica e hemorragia alveolar.
A indicação de biópsia não é consensual. Muitas vezes o diagnóstico é presumido. Em casos com evolução desfavorável mesmo com terapia apropriada, o diagnóstico deve ser revisto e a indicação de biópsia discutida. A técnica transbrônquica costuma fornecer pouco material, podendo ser necessário biópsia cirúrgica para confirmação. Os achados histopatológicos que sugerem POC incluem 'plugs' inflamatórios intraluminais de predomínio alveolar e ductos alveolares com inflamação intersticial.
Qual a terapia de escolha?
O tratamento preferencial consiste na corticoterapia sistêmica. As doses iniciais são de 0.5 a 1 mg/kg de prednisona por 2 a 4 semanas, seguido de desmame a depender da resposta clínica. Esta terapia costuma induzir melhora clínica em 24 a 72 horas. Raramente a melhora ocorre após 10 dias, sendo necessário revisitar o diagnóstico diferencial nessa situação.
Recorrência dos sintomas é incomum, ocorrendo em menos de 25% no primeiro ano em casos tratados adequadamente. O prognóstico com o tratamento é bom, ocorrendo resolução espontânea em até 10% dos pacientes mesmo sem tratamento.
Aproveite e leia:
Volume no Choque Séptico
Quanto e qual fluido fazer é uma pergunta que o clínico faz todos os dias. O estudo CLASSIC avaliou uma estratégia de fluidos restritiva versus a estratégia padrão no choque séptico. Aqui revisamos o tema e resumimos essa nova evidência.
Diabetes Mellitus e Drogas Antidiabéticas no Perioperatório
O controle glicêmico e o manejo de diabetes mellitus estão relacionados aos desfechos clínicos no perioperatório. Esse tópico aborda o manejo dessas condições no perioperatório.
Cigarro Eletrônico e Cessação do Tabagismo
Cigarros eletrônicos ou vapes são produtos que vaporizam nicotina e têm crescido mundialmente. Embora existam muitas preocupações de saúde pública e dúvidas sobre riscos individuais a longo prazo, os cigarros eletrônicos são estudados como meio de cessação de tabagismo. Um estudo publicado no New England Journal of Medicine em fevereiro de 2024 avaliou essa questão. Esse tópico aborda o tema e os novos estudos.
Profilaxia de Tromboembolismo após Artroplastia Eletiva
A partir da década de 1960, as artroplastias começaram a ser feitas de maneira mais efetiva e duradoura. Com isso, percebeu-se um grande risco de tromboembolismo venoso (TEV) associado a artroplastias de quadril e joelho. O recente estudo CRISTAL, publicado no Journal of the American Medical Association, jogou luz nessa questão. Aproveitando a publicação, vamos revisar o tema.
Tratamento de Hiponatremia e Mielinólise Pontina
Hiponatremia grave sintomática pode ocasionar complicações ameaçadoras à vida através de edema cerebral. Elevações acima de 12 mEq/L em 24 horas foram classicamente associadas com o surgimento da síndrome de desmielinização osmótica e mielinólise pontina. Em setembro de 2023, um estudo retrospectivo lançado na revista NEJM Evidence comparou diferentes estratégias de correção e avaliou mortalidade, tempo de hospitalização e ocorrência de mielinólise pontina. Este tópico revisa o tratamento de hiponatremia grave, mielinólise pontina e os resultados deste estudo.